“Histórias de corredor”
O nome da nova rubrica do blog.
Onde escreverei sobre tudo. De
mim, dos outros, e os outros sobre os outros. Da vida quotidiana e dos acontecimentos,
dos mais banais aos mais complexos, que fazem de nós quem somos. Humanos.
É curioso que o nome da rubrica
surgiu precisamente de uma longa observação, diria, antropológica depois de ter
estado quase 12 horas, num corredor de hospital (nada de grave, apenas a espera
dada à grande afluência).
Aquele dia marcou-me até hoje e
tenho na memória muitas das pessoas que por lá passaram. Por vezes dou comigo a
pensar como estarão.
Não consigo explicar porque, mas
aquele dia serviu como uma espécie de ferramenta para o meu autoconhecimento e
ver que de facto características que pensava ter, não são assim tão significativas
e outras o oposto.
Mas é um pouco “bizarro” como olhar
para o outro é tal qual um espelho.
A maioria achará incomum estar
num hospital sentada horas seguidas e conseguir tirar algo dali; mas sou muito introspetiva
e observadora e tudo me faz refletir sobre tudo. Se calhar por isso as 12 horas
passaram num ápice.
Recordo a miúda hipocondríaca, que
caminhava de um lado para o outro no corredor ao telemóvel, horas a fio…e que
no início da noite ouvia os médicos com surpresa, ao descobrir que estava tudo
bem com ela, e onde estes, pacientemente lhe davam conselhos. Ela não sabe, mas
no final do dia, já não me irritavam os “km” percorridos por ela à minha frente.
Porque no fundo, eu sou ela, apenas numa intensidade diferente.
Dava por mim a sentar-me no mesmo
lugar ao lado de um senhor de idade muito calmo, educado e tranquilo. Sempre que
ia caminhar um pouco, só esperava ter o mesmo lugar quando voltasse. Não o
conhecia, mas consegui perceber que estava com dores, mas não o expressava. E
tantas vezes é assim na vida. Calamos o que sentimos. Comecei a analisá-lo com
carinho e só reparei no sangramento no ouvido. Qual médica, já lhe estava a dar
um diagnóstico fatal (o que não era o caso).
E tantas outras histórias…poderia escrever milhares de palavras sobre todas elas, mas não o farei…
A senhora com demência que repetia as mesmas coisas vezes sem conta. Respirei fundo e pensei como a mente humana e o cérebro são um verdadeiro enigma.
A pressa de quem se
tinha sentado há 10 minutos, mas que ruminava como se estivesse há dias no
corredor.
Os olhares de soslaio e desconfiança das pessoas para o jovem cigano que exigia ser atendido de imediato, num tom demasiado desproporcional. Mas também ele tinha medo.
A decadência de quem se deixou levar pelos vícios e prazeres momentâneos da vida.
Sem esquecer a paciência e formas tão distintas que cada profissional de saúde tinha...o olhar e cuidado para com cada ser humano que por ali passava.
Quanto a mim, passaram-se tantas horas e vi uma paciência e tolerância que não sabia ter em tanta quantidade. Mas na verdade, se não estivesse tão absorvida no que observava talvez não experienciasse tudo isto de forma tão leve.
Dá que pensar...talvez a vida seja mais fácil de levar, se olharmos para o outro com mais compaixão, se olharmos em volta e analisarmos o que podemos, ou não, esperar e exigir.
Não existe obrigatoriedade de
publicação, por isso mesmo, estas histórias (ou estórias) aparecerão quando
fizer sentido. E vocês podem também participar. Se tiverem algo a contar que
queiram ver partilhado, enviem um e-mail para dapanelaparaocoracao.yt@gmail.com
Adorei esta rubrica :) estarei atenta!
ResponderEliminarBeijinhos :) :*
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