quarta-feira, 27 de março de 2024

Jesuítas de chocolate

A doçaria portuguesa, principalmente a conventual, é vasta e indiscutivelmente preciosa, quer visualmente, quer pelo sabor. Muitas vezes a aparência complexa leva a acreditar que a sua preparação é trabalhosa, o que nem sempre é verdade. Os jesuítas são um belo exemplo disso. As suas camadas, formato e cobertura crocante, levam-nos a pensar, "Como eles ficam assim?"...mas revelam-se muito simples de confeccionar. 

Embora os tradicionais, com gemas e açúcar sejam deliciosos, decidi fazer uma versão para os apreciadores de "tudo" com chocolate. E porque não, estes triângulos estaladiços desfilarem na mesa de doces desta Páscoa? Certamente surpreenderiam os presentes...😍



                                                           receita em vídeo 👇


INGREDIENTES [6 a 8 jesuítas]

1 | placa massa folhada retangular 

120 gramas | chocolate 70%

120 ml | leite

1 colher sopa | mel (15 ml)

1| clara ovo M (+/- 35 gramas)

15 ml | sumo de limão (espremido na hora)

200 gramas | açúcar em pó

1 colher sobremesa rasa | cacau em pó


PREPARAÇÃO

1 - Numa taça coloque o chocolate (utilize um que aprecie consumir em natura, já que os sucedâneos de chocolate são maioritariamente compostos por gorduras vegetais hidrogenadas), o leite e o mel. 

2 - Derreta em banho-maria. Vá mexendo delicadamente até ficar um creme sedoso.

3 - Retire do lume e deixe arrefecer totalmente, para ficar cremoso e a temperatura não afetar a massa folhada, que deve estar fria.

4 - Abra a massa folhada, na horizontal.

5 - Dobre-a a meio, abrindo novamente, para ajudar a encontrar o centro.

6 - Espalhe a ganache de chocolate de um dos lados.

7 - Cubra com a parte da massa sem recheio. Calque e pressione ligeiramente toda a massa folhada, para que fique bem selada (sem deixar que o chocolate extravase). 

8 - Junte o cacau ao açúcar em pó e misture bem.

9 - Acrescente a clara e o sumo de limão.

10 - Bata até ficar um creme espesso e com relevo (não pode ficar líquido). Pode bater com uma colher, fouet ou batedeira elétrica.

11 - Espalhe este glacé pela superfície da massa, alisando bem com uma espátula. Deve ficar uma camada fina, ainda assim que cubra bem toda a massa.

12 - Corte uma pequena parte da massa na diagonal, para ajudar a dar o formato de triângulos aos restantes. 

13 - Corte a massa em triângulos, deixando uns 3 cm no lado mais fino do triângulo, para criar a forma tradicional do jesuíta. Não precisa ficar perfeito! :) Molhe a faca em água e limpe-a entre cada corte.

14 - Coloque os jesuítas num tabuleiro com papel vegetal.

15 - Deixe repousar 30 minutos, para o glacé secar e ganhar uma ligeira crosta.

16 - Leve ao forno pré-aquecido a 190ºc , 20 minutos, ou até a massa folhar e dourar e o glacé endurecer e escurecer.

17 - Retire do forno e deixe arrefecer um pouco antes de servir.


Bom Apetite!



quinta-feira, 21 de março de 2024

Focaccia de alecrim, cebola roxa e parmesão (sem amassar)

Esta é já a terceira vez em poucas semanas que faço esta focaccia. Sempre com a mesma combinação de toppings. Simplesmente, é impossível parar de comer! E quando temos quem come, arregalar os olhos depois de a provar, sabemos que é bom augúrio…😀
Pão nunca foi o meu ponto forte. Panificação é fascinante e diria mesmo que é uma arte que necessita de muito estudo e muita prática. São inúmeras as condicionantes que afetam o resultado do produto final, e quando algo corre bem e a magia acontece...deixa-nos de sorriso de orelha a orelha. Foi o que me aconteceu com a receita desta focaccia. Finalmente, cheguei à fusão "perfeita" de crocância com maciez…
Os toppings, são totalmente opcionais e a gosto…não há limites para as suas combinações...mas caramba...se estes não ficam deliciosos! 😍






                                      receita em vídeo 👇


Massa com hidratação 95%

INGREDIENTES

500 gramas | água morna (cerca de 36ºc)

5 gramas | fermento biológico seco

5 gramas | açúcar branco

525 gramas | farinha de trigo T65

4 gramas | sal fino

q.b. | azeite extra virgem

Para o topping

q.b. | lascas de queijo parmesão 

1 | cebola roxa pequena em meia-lua 

q.b. | alecrim fresco

q.b. | pimenta preta


PREPARAÇÃO


1 - Junte o fermento e o açúcar (*) à água morna (**) . Misture com um fouet

2 - Deixe repousar 10 minutos para ativar a levedura. 

3 - Numa taça grande coloque a farinha e o sal. Misture bem.

4 - Abra uma ligeira cavidade no centro da farinha e adicione o preparado do fermento. Misture bem com uma colher de pau, ou utilize as mãos para "sentir a massa" (é uma massa muito pegajosa).

5 - Cubra com um pano e deixe descansar 20 minutos, para o glúten começar a relaxar e expandir.

6 - Molhe ligeiramente as mãos com água e agarre a massa no rebordo, indo até ao fundo da taça, estique-a para cima e dobre para o centro. Faça este procedimento de dobragem à volta de toda a massa, rodando a taça para facilitar (umas 5 dobras).

7 - Tape novamente a taça e deixe repousar 10 minutos.

8 - Repita o mesmo procedimento de dobragem anterior.

9 - Regue toda a superfície da massa com um pouco de azeite, massajando com as mãos para que esta fique bem untada.

10 - Cubra a taça com película aderente, estancando-a bem, evitando assim que entre ar. 

11 - Coloque a massa no frigorífico por exatas 24 horas (1 dia). Nesta primeira levedação, o glúten vai expandir, chegando mesmo a triplicar de volume, permitindo também ganhar mais sabor. 

Passadas as 24 horas, é desejável que a massa tenha subido e criado bolhas. Resultado de uma correta ativação do fermento, levando à conversão dos açúcares presentes na massa em dióxido de carbono. 

12 - Forre o fundo de uma forma rectangular com 30×24 com papel vegetal. Se a forma que utilizarem for antiaderente, não usem papel vegetal, para a focaccia ficar ainda mais crocante. Pincele toda a forma com azeite.

13 - Deite a massa na forma e espalhe-a uniformemente.

14 - Cubra com um pano e deixe-a levedar num local quente (***) por 2 horas. 

15 - Unte os dedos das mãos com azeite e empurre, pressionando toda massa com a ponta dos dedos, para formar as tão tradicionais "covinhas" da focaccia.

16 - Espalhe por toda a massa o queijo parmesão, a cebola roxa, o alecrim e a pimenta preta. Pincele, generosamente, com azeite.

17 - Leve ao forno pré-aquecido a 200ºc, cerca de 30 minutos, ou até dourar. 

18 - Deixe arrefecer um pouco antes de servir, mas como todo o pão, é incrível ainda morno! :)


(*) Utilizar açúcar em conjunto com o fermento, vai fazer com os fungos se alimentem da glicose, o que favorece o seu crescimento e multiplicação.

(**) É extremamente importante a temperatura da água. Se esta estiver fria, ou um morno muito leve, a levedura não vai "reagir", sendo que os microrganismos não vão "acordar". Se estiver demasiado quente, simplesmente morrem. Se não tiver termómetro para verificar a temperatura da água, faça um teste, colocando um pouco de água no pulso, e se estiver mais quente do que a temperatura corporal, ainda assim suportável, estará na temperatura certa. 

(***) Dicas: coloque dentro do forno desligado ao lado de uma taça com água a ferver. Dentro do microondas desligado. Num local com um aquecedor ligado, tendo em atenção para não colocar o aquecedor perto da forma, para não secar a massa. 


Bom Apetite!


                                       receita em vídeo 👇




quinta-feira, 14 de março de 2024

Sopa de grão de bico com agrião

Embora a primavera esteja quase a bater à porta, os dias frescos prevalecem...e nada melhor de que uma sopa reconfortante no final do dia, para aconchegar o estômago. E esta combinação de ingredientes, grão de bico com agrião, é perfeita. Sem dúvida está no meu top das minhas favoritas. 😍

Em criança, no caminho diário para a escola, passava por um pequeno riacho onde existia uma grande quantidade de agrião, mas nem sonhava que seria uma planta comestível tão boa, não só de sabor, mas também como vegetal com inúmeros benefícios para a saúde. A oportunidade que perdi por não arrancar alguns pés de agrião e levar para casa. 😀

Curioso perceber que viver local rural, não implica a valorização do que nasce da terra naturalmente. Assim como acontece com o agrião, acontece com as acelgas, as amoras (o que eu agradeço, assim sobra mais para mim😁)…

Graça à parte, a questão do desperdício e a não correta utilização de recursos naturais (e não só) é um assunto delicado e tanto haveria a dizer, principalmente sobre a nossa negligência…no fim de contas, gostaria apenas que todas as pessoas tivessem acesso a uma tigela de sopa destas, nem que fosse apenas uma por dia…e que as quase 750 milhões de pessoas que passam fome diariamente nutrissem o corpo e a alma.

Quando preparem e consumirem as vossas refeições, façam-no com intenção...porque tal como o nome do blogue, vai mesmo...da panela para o coração! 

 receita em vídeo 👇



INGREDIENTES

400 gramas | grão de bico cozido

1 | batata pequena (cortada em cubos)

1 | cebola grande (picada grosseiramente)

2 | dentes de alho

1 colher sopa | coentros frescos

80 gramas | agrião

100 gramas | grão de bico

q.b. | sal e pimenta preta

q.b. | azeite virgem extra


PREPARAÇÃO

Numa panela, coloque o grão, a batata, a cebola, o alho e os coentros. 

Cubra com água ou caldo de legumes (cerca de 800 ml).

Coza até ficar tenro (aproximadamente 20 minutos).

Triture com a varinha mágica até ficar cremoso (se preferir, utilize um liquidificador para ficar um creme mais macio). 

Leve novamente ao lume e condimente com sal e pimenta preta a gosto. Se necessário e de acordo a preferência, acrescente mais água para ajustar a textura da sopa.

Deixe ferver e acrescente o agrião e o grão de bico. Coza mais uns 5 minutos.

Retire do lume e regue com um fio generoso de azeite.

Está pronto a ser servido! 



Bom Apetite!



sexta-feira, 8 de março de 2024

Pão de ló (fofo e muito saboroso!)

Pão de ló deve ser das receitas mais consensuais...a sua simplicidade de ingredientes, transforma-o num dos doces mais apreciados no nosso país. Existem mil e uma versões, todas verdadeiramente saborosas…não consigo recusar uma fatia bem fofa, daquelas que desfazem na boca...como é preciosa a doçaria Portuguesa!

Pão de ló

Pão de ló

                                           receita em vídeo 👇


INGREDIENTES

8 | gemas M

2 | ovos inteiros M

110 gramas | açúcar branco

45 gramas | farinha de trigo T55 sem fermento

5 ml | vinho do porto

5 ml | sumo de limão (espremido na hora)


PREPARAÇÃO

Numa taça alta, coloque as gemas, os ovos, o vinho do Porto, o sumo de limão e o açúcar.

Bata até obter uma massa volumosa, leve e cremosa (bata uns 10/15 minutos).

Peneire a farinha e envolva-a delicadamente no batido dos ovos e açúcar.

Verta a massa numa forma redonda com 24 cm de diâmetro e forrada com papel vegetal. 

Leve ao forno pré-aquecido a 180ºc, cerca de 20 minutos. É desejável que a massa fique ainda mole no centro, vá verificando.

Retire do forno e deixe arrefecer e descansar umas 3 horas antes de servir.



Bom Apetite!

sexta-feira, 1 de março de 2024

Peixinhos da horta | Petisco português

Não será difícil adivinhar porquê da designação "Peixinhos da horta" a este petisco. A semelhança com uma sardinha ou carapau fritos, é mera coincidência. 😉 

Estes foram capturados em terra firme 😁, ainda assim, são famosos, encontrando-se entre as receitas portuguesas mais tradicionais. Aqui no norte do país, não é tão recorrente a confecção e consumo deste prato, sendo mais comum a sul, na zona da estremadura.  

Uma receita composta por  poucos e singelos ingredientes, mas carregada de história. Tal como grande parte das receitas portuguesas. O fazer do pouco muito…transformando o ordinário em extraordinário!

Os "Peixinhos da horta", terão surgido numa primeira versão, ainda na época dos Descobrimentos, como forma de conservação e aproveitamento dos legumes. Quão fascinante é imaginar os tripulantes das embarcações a "magicar" o que poderiam preparar com um simples vegetal. A criatividade e capacidade de improvisar torna-se  (quase) inato no ser humano, quando isso significa a sua sobrevivência. 

Nesta receita, o feijão-verde é simplesmente envolto num polme e mergulhado em óleo quente...o resultado? Um petisco estaladiço, de sabor simples, mas inesquecível e viciante! 

Não é estranho observarmos na culinária asiática, pratos semelhantes, como a tempura, que é precisamente uma derivação da receita deixada pelos portugueses em território japonês, no século XVI. 

Revela-se uma excelente opção vegetariana, podendo ser utilizados outros vegetais (courgette, espargos…) além do feijão-verde. É também uma sugestão bastante económica , o que nos dias de hoje torna-se imperativo. Considerando, que deve ser um prato a consumir com moderação, já que é frito. 

Sem falsas modéstias, esta versão da receita que partilho é um verdadeiro manjar. 😋 Preparem para a vossa família e amigos esta pequena maravilha da culinária portuguesa.

                                          receita em vídeo 👇


Peixinhos da horta

Peixinhos da horta

Peixinhos da horta


INGREDIENTES

150 gramas | feijão-verde

75 gramas | farinha de trigo T55 com fermento

1 | ovo L

50 ml | cerveja

1 colher sopa | salsa fresca picadinha

q.b. | sal e pimenta preta

q.b. | óleo vegetal


PREPARAÇÃO

Lave o feijão-verde.

Corte as extremidades. 

Retire o fio do feijão-verde, com um descascador ou uma faca.

Se a vagem for muito longa, corte-a a meio. Se preferir, corte-a na vertical, para ficar mais fino (eu prefiro). 

Certifique-se que ficam todas com o mesmo tamanho, para fritarem uniformemente.

Coloque o feijão-verde num tacho com água a ferver, temperada com um pouco de sal. Coza durante (exatos) 3 minutos.

Escorra o feijão-verde e coloque-o numa taça com água fria e gelo, para parar a cozedura e torná-los mais firmes e vivazes (este processo designa-se por branqueamento*). 

Retire as vagens da taça, escorra e seque-as bem, podendo utilizar papel de cozinha para ajudar a absorver a água.


Coloque a farinha numa taça e junte sal e pimenta preta a gosto. Misture. 

Faça uma ligeira cova no centro da farinha e coloque o ovo e a cerveja. 

Envolva bem com um fouet, até ficar um polme homogéneo.

Acrescente a salsa picada e misture.  


Leve ao lume uma frigideira com óleo abundante e deixe aquecer.

Mergulhe cada tira de feijão-verde no polme, escorra ligeiramente e coloque na frigideira com o óleo bem quente, deixando fritar até ficar douradinho. 

Não lote a frigideira, para a temperatura do óleo não baixar e afetar a textura dos "peixinhos". 

Retire-os da frigideira com uma escumadeira e coloque numa travessa com papel vegetal para absorver a gordura em excesso.

Sirva os peixinhos da horta, de preferência, ainda quentes. Como entrada, acompanhamento, com arroz de tomate, açorda de tomate…  

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Arroz de Tomate

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Açorda de Tomate



Bom Apetite!